Vamos falar de eleições?
- Carlos Nascimento
- 4 de mai. de 2018
- 3 min de leitura

Pare de ler aqui quem pensa que vou tratar das eleições para o legislativo ou executivo que ocorrerão este ano. E não farei isto não só para evitar entrar em debates dos quais a internet já está cheia, mas por descabido o tema aqui.
As eleições às quais me refiro são aquelas realizadas no seio da nossa associação em todos os seus níveis, desde o local ao nacional.
O nosso sistema eleitoral, apesar de ser legal não é legítimo, pois não é verdadeiramente democrático. Com exceção do nível local, que apesar de se basear em um colégio eleitoral mais amplo ainda assim traz distorções e incoerências.
A Assembleia de Grupo, ou o Conselho de Pais nas seções autônomas, é onde começa todo o processo atuando como Colégio eleitoral, porém incoerente, pois deles participam, ainda que amparadas pelos Estatuto da União dos Escoteiros do Brasil, pessoas que não precisam ser registradas na UEB, porém são reconhecidas como associados contribuintes, que são os pais e responsáveis dos beneficiários.
Se com relação ao Grupo Escoteiro os pais podem escolher com conhecimento de causa quem serão os dirigentes e membros da Comissão Fiscal do Grupo, o mesmo não se pode dizer quando se trata de escolher os integrantes dos níveis regional e nacional, pois indiretamente ao votar em um delegado para a Assembleia Regional este sócio contribuinte está investindo este do poder de em seu nome escolher quem serão os dirigentes regionais, assim como quem serão os delegados regionais que irão escolher os dirigentes nacionais.
Ou seja todo o nosso processo eleitoral começa na Assembleia de Grupo; com pessoas que têm um maior ou menor grau de comprometimento com o Movimento Escoteiro, e que ao escolher um delegado para representar o Grupo, portanto eles próprios, o fazem sem saber direito qual o papel que terá aquela pessoa. Dá-se um mandato às cegas, pois quando da realização da Assembleia de Grupo normalmente não se sabe quem serão os candidatos a dirigentes no nível regional, e por tabela menos ainda no nível nacional.
A menos que haja uma grande ruptura, o nosso sistema representativo é desenhado para a perpetuação de grupos no poder, com as raras alternâncias sendo feitas a partir de pessoas que até determinado momento integravam o grupo mandante.
Vamos exemplificar a partir da observação, feita pelo conselheiro MARCO AURÉLIO ROMEU FERNANDES na 89ª Reunião do CAN, já mencionada em artigo anterior, o qual disse que “É notório o uso da área de formação das regiões escoteiras, e até mesmo do nível nacional, com fins evidentemente políticos, o que afeta muitas vezes a qualidade das equipes, eis que afasta pessoas capacitadas e inclui outras não adequadamente preparadas.” Ora quando o sistema estabelecido usa o seu poder para designar somente os amigos mais chegados, independentemente de sua capacidade ou não, e os unge como “sumidades escoteiras”, não só está angariando apoios, mas também apresentando possíveis candidatos que, sem fugir à regra da política tradicional, distribuirão afagos e sorrisos, angariando apoios para o grupo no poder. Para os mandatários pouca importância tem que estas pessoas tenham qualidade para serem membros de uma equipe de formação, o mais importante é que consigam apoios à continuidade.
Assim, todos aqueles que não contam com as bênçãos dos que estão no poder, mesmo que tenham capacidade para serem membros de uma equipe de formação, ou ocupar um cargo na Diretoria Regional, passarão a ser ignorados, e até mesmo rejeitados, inclusive por quem nunca teve contato prévio, numa reprodução daquela experiência dos macacos com o jato de água fria.
Tudo poderia ser diferente se o modelo fosse outro, se o universo votante fosse maior, se o poder de barganha de votos alianças que praticamente entroniza por antecipação os escolhidos pelos grupos hegemônicos, fosse substituído por um modelo em que o resultado fosse a expressão da vontade direta da maioria dos associados. E não este modelo em que pouco mais que uma centena de delegados escolhem aqueles que irão estar no topo da estrutura administrativa sem que os seus votos reflitam verdadeiramente os mais de 26 mil voluntários adultos que estão nas bases, melhor seria se pudesse refletir também o pensamento dos membros juvenis.
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