O ESCOTISMO E A SÍNDROME DE PROCUSTO
- Carlos Nascimento
- 26 de fev. de 2019
- 3 min de leitura

Com certeza você conhece alguém que por seus conhecimentos, habilidades e atitudes poderia estar em uma equipe de formação, ocupando um cargo no nível Regional ou até mesmo Nacional dos Escoteiros do Brasil mas não está.
E isto não se dá porque os dirigentes desconhecem esta pessoa, pelo contrário, na maioria das vezes ela é até mesmo bastante conhecida e reconhecida; porém os Procustos modernos, deitam-na em sua cama e cortam-lhe os pés e a cabeça.
Procusto, ou Procustes, é um personagem da mitologia grega, filho de Poseidon, um estalajadeiro que torturava, amputava ou matava a marteladas todos os hospedes cujo tamanho não era igual ao comprimento de sua cama de ferro. Se a vítima era mais longa e seus pés, mãos ou cabeça saíam da cama, Procusto cortava-as. Se a pessoa fosse menor, ele quebrava seus ossos para obter o tamanho certo. A tirania dele só acabou quando Teseu apareceu na estalagem e o obrigou a se deitar na própria cama.
Chama-se síndrome de Procusto a tendência que têm algumas pessoas de rejeitar todos que são diferentes dele por medo de serem superados ou questionados por eles. Ao se sentir ameaçado por alguém que é mais capacitado, proativo, criativo e capaz de superá-lo em alguma área estas pessoas acabam tendo comportamentos que visam desqualificar, menosprezar, humilhar e boicotar o colega.
O Procusto moderno vale-se de mil estratagemas para deter a ameaça, um dos mais comuns é isolar a potencial ameaça, mantendo-a longe de seu império de poder, quanto menos a pessoa aparecer menos ameaça representa para o nosso Ch. Procusto.
Porém em épocas de redes sociais, não é fácil manter as pessoas isoladas, e se por acaso a ameaça coloca a cabeça para fora, mostrando suas ideias, o Ch. Procusto trata de por si, ou por quem o segue, desqualificar primeiro as ideias ou feitos, depois a própria pessoa que ele vê como ameaça.
Para que tenha um domínio da situação o Ch. Procusto trata de fazer com que o entorno seja o mais homogêneo possível no tocante de pensamentos e ações, cercando-se daqueles que pensam como ele, mas não mais que ele.
Não é difícil reconhecer um Ch. Procusto, o primeiro sinal é a sede de poder, e os modos empregados para chegar até ele, assim como a intensidade que se aferra a este poder conseguido. Apesar de possuir seus méritos próprios o Ch. Procusto é inseguro, e vê ameaças por toda parte. Esta insegurança faz com que o Ch. Procusto monopolize todas as tarefas, mesmo que não seja capaz de dar conta delas. Às vezes abre mão de algo sem deixar-se substituir, pois ele deve estar em evidência.
Por se sentir o tempo todo ameaçado o Ch. Procusto é pouco transparente, conhecimento é poder, e a informação compartilhada pode ser usada contra ele.
Para o Movimento Escoteiro os Chefes Procusto causam prejuízo pois este tem reduzido o seu poder de renovar-se em termos de pessoal não permitindo que sejam postos em seu favor novos conhecimentos, habilidades e atitudes que contribuam de forma positiva para o crescimento do Escotismo, desmotivando uma parcela dos voluntários.
Há um ditado que “diz se você encontrar alguém com mais talento que você contrate-o e pague mais do que ele pede”. Porém o que temos visto no Escotismo é se você encontrar alguém com mais talento que você isole-o, pois sua luz só brilhará se você apagar a do outro.
Como solucionar isto? Talvez não seja fácil, pois é difícil antever um Ch. Procusto até que ele tenha o poder. Porém podemos ficar atento aos sinais, especialmente daqueles que buscam o poder a qualquer custo. Mas também podemos criar mecanismos que permitam o acesso de outras pessoas à funções e tarefas que são capacitadas, assim como a oportunidades formais e informais de formação, como por exemplo uso de editais para ocupação de algumas funções e acesso à oportunidades de formação, com regras claras e atribuições de pontuações valorizando especialmente a experiência e o conhecimento na área.
E por último, porém não menos importante é que os atos sejam transparentes.
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