INCOERÊNCIAS NA FORMAÇÃO DO DIRIGENTE INSTITUCIONAL
- Carlos Nascimento
- 3 de ago. de 2018
- 3 min de leitura

Se há algo de incoerente no sistema de formação da UEB é a linha de formação de dirigentes institucionais.
A primeira incoerência é que segue o mesmo esquema da formação de escotistas, ou seja, três níveis o que pressupõe, nas regiões com grande oferta de cursos, um mínimo de dois anos, para se alcançar o nível avançado. Pressupondo-se uma oferta regular de cursos para a linha de dirigentes, e que o cursante seja ágil no cumprimento de suas tarefas prévias e práticas supervisionadas. Assim ao chegar ao final da linha de formação o dirigente também terá terminado o seu mandato à frente do Grupo Escoteiro, ou estará quase no final de um mandato regional, os quais poderão ser renovados ou não.
A segunda incoerência é que estes cursos são dirigidos e ministrados na maioria das vezes por pessoas com pouca ou quase nenhuma experiência administrativa, que apenas seguem o manual do curso, e não estão nem um pouco familiarizadas com a gestão de Organizações da Sociedade Civil (OSC) em um contexto mais atualizado. É interessante ver quem nunca fez um plano de grupo falar sobre planejamento; alguém cujo grupo não tem CNPJ falar sobre captação de recursos; quem teve contas rejeitadas falando sobre orientação financeira e até mesmo pessoas cujo grupo sofreu intervenção por deficiência administrativa participar de uma equipe de curso. Estas são situações que aconteceram e acontecem.
A terceira incoerência é que apesar de ser um curso destinado a dirigentes institucionais o conteúdo dedicado aos assuntos da gestão institucional, tanto no nível básico quanto avançado, tem um tempo inferior ao destinado aos assuntos de caráter puramente escoteiros.
Urge que a formação de dirigentes seja reformulada, atualizada, e sobretudo facilitada usando os recursos de educação à distância, para ofertar conteúdos que se coadunem com as necessidades dos dirigentes institucionais, a fim que de forma rápida possam assumir plenamente as suas funções.
É necessário que o dirigente conheça o Escotismo? Sim é necessário, porém o suficiente para tocar o dia-a-dia de uma UEL. Qual a necessidade, por exemplo, de se gastar tempo em um avançado para dirigentes para falar de Gilwell Park? Ou se planejar uma noite internacional? Todo o conteúdo meramente escoteiro poderia ser concentrado em um curso que, quiçá, pudesse ser pré-requisito para os demais; porém com informações suficientes e adequadas para um dirigentes, e não para um escotista, o que muitos candidatos a dirigente também o são, e assim poderiam estar dispensado deste curso introdutório.
As organizações do terceiro setor estão cada vez mais profissionalizadas, mesmo que tocada por voluntários, para que possam atender os desafios contemporâneos da sociedade, do poder público e apoiadores atuais e possíveis.
A formação dos dirigentes institucionais escoteiros não pode diferir muito da capacitação dos gestores de OSC, assim os conteúdos da capacitação não poderão fugir destes temas: Políticas públicas e marco regulatório para o terceiro setor; captação de recursos, planejamento e comunicação nas OSCs; relações institucionais, estratégia, cooperação, gestão de recursos materiais, financeira e de pessoas nas OSCs e por último, mas não menos importante, gestão de conflitos, os quais deverão ser abordados de forma o mais profunda possível.
Os conteúdos dos cursos deveriam ser modulados para facilitar não só o acesso, mas também a composição de itinerários formativos que contemplem necessidades específicas, como por exemplo área administrativa, área financeira, etc.
Para que isto seja implementado ao redesenhar os conteúdos e itinerários formativos também deve-se redesenhar o modelo de oferta, com equipes diferenciadas, integradas por pessoas com experiência comprovada nos temas a serem abordados, que não necessariamente deverá ser membro do Movimento Escoteiro.
O que não podemos é continuar misturando assuntos diferentes, fazendo com que alguém somente por ter o título de formador se ache, tal qual Picolo de la Mirandola, capaz de falar de todas as coisas sabidas e mais algumas.
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