AS MULHERES E O ESCOTISMO

A história das mulheres no Movimento Escoteiro, sim Movimento Escoteiro, ainda é uma história por se escrever, desde os primórdios do Escotismo muitas mulheres contribuíram para o fortalecimento do movimento, mesmo após o surgimento do congênere feminino, muitas delas exerceram um papel, por vezes heroico, importante para o Movimento Escoteiro.

É impossível resgatarmos a obra de todas estas mulheres escoteiras, algumas por falta de maiores referências, outras porquanto foram de todo esquecidas. Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, trago a lembrança três mulheres que em diferentes momentos prestaram a sua contribuição ao Movimento Escoteiro.

Comecemos quando tudo começou, muito antes de tudo.

AUDREY WADE

Audrey Wade (1883-1969). Imagem: Museu Henfield

Corria o ano de 1903, Baden-Powell, que após o final da Guerra Boer, retornou a África do Sul para organizar a Polícia Sul Africana, porém por motivos de Saúde ficou lá somente sete meses, tendo que retornar à Inglaterra. Na viagem de volta teve a companhia do então Capitão A. G. Wade, que mais tarde se tornaria Major e um dos maiores colaboradores de Baden-Powell no Escotismo, inclusive organizando o primeiro Jamboree Mundial. Baden-Powell havia tomado conhecimento que o seu manual de treinamento militar, Aids to Scouting estava sendo usado por professores e organizações juvenis e começou a pensar em fazer uma adaptação par o seu uso educacional para jovens, uma vez que tal livro fora feito para militares. Durante esta viagem, BP explicou ao Capitão Wade seus planos para estabelecer um esquema de treinamento para jovens tendo como base não somente o livro Aids to Scouting, mas a experiência que ele teve com os cadetes de Mafeking.

As ideias de Baden-Powell causaram uma grande impressão positiva em Wade que ao chegar à sua cidade, Henfield, compartilhou-as com a sua irmã, Audrey Wade, que na época era a organizadora de um clube de hóquei masculino em Henfield.

Devido à sazonalidade do hóquei a Srta. Wade já vinha buscando algo que mantivesse os meninos ativos durante todo o ano. Foi uma questão de tempo, meses após Baden-Powell organizar o acampamento experimental de Brownsea a Srtª Audrey Wade, começou a converter o clube de hóquei em uma tropa de escoteiros. Para os encontros utilizou o galpão de uma antiga carpintaria e a as atividades eram baseadas na programação do acampamento de Brownsea que havia sido publicada na imprensa.

Quando o primeiro fascículo de Escotismo para Rapazes foi lançado, em janeiro de 1908, a Tropa Escoteira de Henfield já contava com 30 membros.

Audrey Wade (sentada ao centro) e a 1sr Henfield Scout Troop

Além de fundadora da primeira Tropa Escoteira do mundo, ainda hoje existente como 1st. Scout Group Henfield, Audrey Wade (1883-1969) também foi a primeira chefe de Tropa do mundo, tendo como assistente outra mulher, a Srta. Sybil Mead.

E. K. WADE

O sobrenome Wade não é coincidência com a nossa homenageada anterior, E. K. WADE,

como assinava suas obras, ou Eileen Kirkpatrick Wade, ou quando solteira Eileen Kirkpatrick Nugent, por vezes referenciada como Maud Eileen, veio a ser cunhada de Audrey Wade através do casamento com o Major Wade.

Muito jovem Eileen Wade começou a trabalhar no escritório da Associação Escoteira do Reino Unido, depois se tornou secretária particular e confidente de Baden-Powell, tendo após o seu casamento chegado a morar com o casal Baden-Powell.

E. K. Wade é personagem importante para a historiografia escoteira, e do bandeirantismo, pois seus livros transcrevem muitos fatos que ela vivenciou ou tomou conhecimento através do fundador e sua esposa, além do seu próprio marido que atuou por bastante tempo como auxiliar direto de Baden-Powell. No total foram cinco livros, ainda sem tradução para o português, e que ainda podem ser encontrados a venda. São eles:

• The Piper of Pax: The Life Story of Sir Robert Baden Powell (1925)

• 27 years with Baden-Powell (1957)

• The World Chief Guide - Olave, Lady Baden-Powell (1963)

• Olave Baden-Powell: the Authorised Biography of the World Chief Guide (1971)

• The Chief: Life Story of Robert Baden-Powell (1975)

JÓZEFA KANTOR

(Extraída dos site da Associação Escoteira Polonesa)

Ela nasceu em 5 de março de 1896 em Tarnów. Depois de se formar na escola primária, ela começou a estudar na Escola Normal em Tarnów.

Em 1914 ela se juntou ao Movimento Escoteiro, dois anos depois, ela passou no exame final da escola secundária (escola normal) tendo recebido um convite para ser professora tendo ido trabalhar na região da Silésia, ela imediatamente se juntou ao trabalho educacional para os silesianos e realizou extensas atividades patrióticas. Ela fundou a Sociedade de Mulheres Polonesas, que organizou cursos especializados e treinamento para mulheres.

Em 1932, ela assumiu a 3ª Tropa de Escoteiros na Escola Geral No. 4 em Szopienice, que foi de grande importância por ser uma escola alemã minoritária. Ela fundou outra Tropa, chamada Emilia Plater, na Escola Pública nº 7. Em 1935 Józefa Kantor participou em Spala do Rally doEla do Jubileu do de Escotismo Polonês.

Com participante ativa do Escotismo ela conduziu uma série de treinamentos, incluindo a Escola para Chefes Escoteiros em Bucz, tendo também se envolvido com a organização de manifestações anti-guerra em Katowice. Em agosto de 1939, ela dirigiu um curso para “escoteiros seniores” tendo partido para Tarnów após o fim do curso.

Após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, ela permaneceu em Tarnów, pois soube que devido às suas atividades patrióticas e educacionais na Silésia, ela estava na lista de pessoas procuradas pela Gestapo. Junto com seus amigos, ela começou um trabalho de caridade para 126 professores deslocados que se estabeleceram temporariamente em Tarnów.

Organizaram-se cozinhas e lavanderias para refugiados. O comitê de 143 pessoas também arrecadou fundos para os refugiados, que foram pagos a eles na forma de benefícios. Além disso, foi realizado monitoramento de rádio, distribuição de imprensa clandestina e publicação de jornal e folhetos.

Em outubro de 1940, Kantor foi detida e encarcerada em Tarnów, onde passou nove meses. Trancada em uma cela, ela não desistiu, pelo contrário - reuniu outros prisioneiros ao seu redor, ajudando-os a sobreviver aos momentos mais difíceis. Ela forneceu ajuda e apoio mental. Em 12 de setembro de 1941, ela foi transferida para o campo de concentração para mulheres em Ravensbrück. Nas condições do campo de concentração, ela organizou uma tropa de escoteiras clandestina chamada "Mury" (Muros), que envolveu 102 membros do campo até o seu final com a liberação dos prisioneiros.

A tropa, cujo slogan era "Ajude os outros a sobreviver", arrecadou fundos, emitiu diplomas, organizou promessas e até conduziu um curso em equipe. As escoteiras que trabalhavam na cozinha e colhiam frutas alimentavam suas companheiras de prisão, e as que trabalhavam na sala de costura costuravam secretamente roupas infantis e roupas íntimas para as prisioneiras.

Kantor organizou treinamentos regulares em Ravensbrück. Sob sua liderança, as escoteiras cantaram canções de natal polonesas e canções patrióticas, canções folclóricas e escoteiras, organizaram noites de poesia polonesa, discutiram, contaram livros e compartilharam informações. Kantor também organizou celebrações de Natal e Páscoa.

A bandeira da 13ª Tropa de Escoteiras Kantor de Varsóvia, encontrada durante a separação das roupas no depósito do campo, foi protegida, escondida e entregue aos escoteiros de Varsóvia após a guerra. Ela permaneceu no campo de Ravensbrück até a libertação em 28 de abril de 1945, quando foi transferida para a Suécia para tratamento. Depois de retornar em 1954, ela começou a trabalhar como professora. Ela também se envolveu em atividades de escotismo tendo também organizado reuniões de ex-membros da Tropa "Muros" e participou de várias reuniões, onde ela transmitiu suas memórias e experiências aos jovens.

Kantor morreu em 25 de setembro de 1990 e foi enterrada no cemitério de Szopienice. Ela foi condecorada com a Cruz de Cavaleiro da Ordem da Polonia Restituta (1968), a Cruz de Ouro do Mérito (1957), a Cruz "Pelos Méritos para a Associação Escoteira Polonesa" (1971) e a Ordem Papal "Pro Ecclesia et Pontifice"