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Revisionando o Escotismo

  • Foto do escritor: Carlos Nascimento
    Carlos Nascimento
  • 4 de jul. de 2021
  • 5 min de leitura

Atualizado: 13 de jul. de 2021


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Navego na internet desde os seus primórdios comerciais no Brasil em 1997. O site do nosso Grupo Escoteiro, o Canto do Uirapuru, foi a primeira página escoteira (uma página era o que era permitido o início da internet e durante muito tempo ficou como sinônimo de site). Com a evolução pudemos crescer e nele, em uma era pré google, colocamos o primeiro índice de sites escoteiros. Naquele tempo, antes dos robôs do google, a indexação de sites era manual, e ao fazer este trabalho para nosso site tive contato com muitos sites e listas de emails que iam muito além do debate sobre aquilo que se apresentava oficialmente, e a história do aperto de mão era um destes temas frequentes. Uma das versões é a que se discutia se B-P era maçom e o aperto de mão seria uma prova disto, ou simplesmente que o aperto de mão era uma emulação de sinais de sociedades místicas ou secretas como a própria maçonaria ou rosacruz, porém nestas ordens o aperto é com a mão direita a mão esquerda usa-se no chamado aperto de cobertura, para esconder o sinal.


Este meu trabalho na internet me rendeu terabytes e informações nem todas as quais estão devidamente tratadas por serem temas em que as informações ainda não estão de todo claras, e sobre as quais uma manifestação apressada, não aprofundada, poderia invés de jogar luz sobre uma questão obscurece-la ainda mais, ou ainda algumas que causam pouco ou nenhum impacto no objetivo educativo do Escotismo, sendo mais adequadas a um almanaque de curiosidades, como aqueles distribuídos antigamente em farmácias.

É claro que nunca escapamos de debates anódinos. Certa vez presenciei um debate sobre que lado deve-se sair para ir até a bandeira, e se por fora ou por dentro da ferradura. E a minha resposta foi que importância tem isto? Muitos destes debates adquirem cariz sectário, em que os pontos de vista são influenciados muito mais pela visão pessoal, que por um embasamento em pesquisa mais aprofundada e isenta sobre o tema e alimentam um revisionismo/negacionismo que por vezes visa atender objetivos nem sempre claros.


Quando tratamos de nos basear nos escritos de B-P temos que ir além do publicado, e algumas destas publicações foram revisadas várias vezes. Necessitamos confrontar com opiniões sobre o mesmo tema, caso existam, escritas em diferentes épocas. E sobretudo temos que analisar o contexto temporal, histórico, social da época do escrito. Baden-Powell foi educado e viveu a maior parte da sua vida na segunda metade do século XIX seus escritos escoteiros datam das primeiras décadas do século XX, e passam por vários contextos históricos e culturais, em uma Inglaterra ainda vitoriana, apesar da rainha Vitória ter morrido em 1901, em que o puritanismo era a regra. Afora isto a tradução deve percorrer as nuances da linguagem empregada, Baden-Powell adorava um trocadilho, e as mudanças da própria língua.


Há que se considerar que muito do pensamento de B-P está expresso em sua correspondência, especialmente naquelas sobre os seus livros. Entretanto a construção do edifício do Movimento Escoteiro não se deve unicamente a Baden-Powell. Ele contou com muitos colaboradores. Um exemplo, é comum citar “O Sistema de Patrulhas não é apenas um método pelo qual o Escotismo possa ser posto em prática, mas que, na verdade, é o único método possível para praticar o Escotismo” como sendo uma frase de Baden-Powell, quando ela está no capítulo inicial do livro de O Sistema de Patrulhas, escrito pelo Cap. Roland E. Phillipps, inclusive a frase completa deixaria isto claro porquanto Rolland fala em “praticar o Escotismo de B-P”.


Também é necessário ir além, ou retroagir um pouco, para buscar as fontes do pensamento, nem sempre original, de B-P especialmente consultando a obra de Ernest Thompson Seton. Muito do Escotismo para Rapazes está baseado na obra The Birch Bark_Roll of Woodcraft Indians de Seton, livro este que foi enviado a Baden-Powell em 1906 e com quem Seton se encontrou em 30 de outubro do mesmo ano no Hotel Savoy, em Londres, quando passaram várias horas discutindo sobre o trabalho de Seton com os meninos. Mais tarde Seton seria o primeiro Escoteiro Chefe da Boy Scouts of America e escreveria junto com B-P o primeiro Manual Escoteiro da BSA. Antes disto Seton enviou cartas ácidas a Baden-Powell reclamando pela utilização de partes da obra dele no Escotismo para Rapazes, cujos originais havia recebido para opinar, sem citá-lo. Quando os fascículos quinzenais saíram os créditos a Seton foram dados, depois viriam a ser removidos do livro.


Em um banquete realizado no Waldorf-Astoria da cidade de Nova York, Seton serviu como mestre de cerimônias e apresentou Baden-Powell como o pai do escotismo. Baden-Powell teria respondido: “Você está enganado, Sr. Seton…. Posso dizer que você, ou Dan Beard, é o pai - - há muitos pais. Eu sou apenas um dos tios, posso dizer. ” Porém na foto feita neste mesmo dia, que ilustra este artigo, B-P se coloca ao centro sentado ladeado pelos chefes da BSA.


Em 1915 Seton rompeu com o Movimento Escoteiro após a BSA exonera-lo do cargo de Escoteiro Chefe, nomeando James E. West em seu lugar, sob a justificativa que ele não era cidadão americano (Seton era canadense). No dia 5 de dezembro de 1915, Seton convocou uma coletiva de impressa e declarou sobre o Escotismo: “Seton começou; Baden-Powell incrementou*; West o matou." *no original boomed que quer dizer explodiu, em referência ao crescimento.



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Ilustração do Livro Lives of the Hunted, New York, 1901, de Ernest Seton-Thompsonst

O movimento criado por Seton em 1902, que ainda existe agora com o nome de Woodcraft Rangers, tinha como pano de fundo a vida dos indígenas norte-americanos, incorporando todo um imaginário de cultura e tradições. Em um dos seus livros aparece o aperto de mão esquerda com os dedos entrelaçados, tal qual usamos no Brasil, e que chegou a ser usado pela BSA nos primeiros anos.


O caso de amor e ódio de Seton com o Escotismo, e suas reivindicações de plágio por B-P, merece um estudo mais aprofundado, porém que entra mais no campo da história, sem impactar em nada o objetivo.


Post Scriptum.


Especificamente sobre o tema aperto de mão, como dito a polêmica não é recente, com distintas teorias sendo levantadas, aqui apresento os links sobre algumas destas:


No Infoscout ao discutir sobre o aperto de mão expõe isto “Outra versão ligada a esta história nos diz que o aperto da mão esquerda é uma homenagem ao chefe Kweku Andoh, que era canhoto e tinha tendência a apertar a mão esquerda. O chefe Kweku Andoh era um oficial do exército britânico e liderou as tropas para Kumase quando Prempeh foi capturado. Supostamente, foi Andoh quem ensinou Baden-Powell a explorar a selva.” No mesmo artigo outras versões são apresentadas https://infoscout.cl/la-sena-y-el-saludo-scout/


A origem maçônica e a afirmação que os ashantis jamais usaram o aperto de mão esquerda é apresentada neste artigo: https://www.woodsmokelodge9317.org.uk/scouting-and-freemasonry/


A referência a Seton e outras explicações estão neste artigo http://www.netpages.free-online.co.uk/sha/lhs.htm


A tese que seria uma forma de B-P incentivar a ambidestria está neste artigo https://www.weirduniverse.net/blog/comments/origin_of_left-hand_handshake/

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