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A honra escoteira e o 1º artigo da Lei

  • Foto do escritor: Carlos Nascimento
    Carlos Nascimento
  • 17 de ago. de 2018
  • 6 min de leitura


Quando a internet ainda era mato, criamos a página “O Canto do Uirapuru”, sim página porque à época (1997) tudo que se podia fazer era uma página cinza com no máximo um pano de fundo (background), foi uma das primeiras páginas escoteiras da internet brasileira acreditem fomos até criticados no Sempre Alerta por fazermos Escotismo virtual. Com a popularização da internet, e dada a precariedade do que estava on line, as listas de email, também chamadas listas de discussão (por motivos óbvios) eram a maior fonte de informação, e por não terem controle as tupiniquins eram temidas por nossos dirigentes que ficavam espreitando o que se discutia e divulgava. Porém eram as listas estrangeiras que tinha um conteúdo mais completo onde se podia melhor colaborar, e foi através dela que consegui levantar um repertório de Leis Escoteiras vigentes em vários países e associações. Copilei o trabalho, traduzi para o português e publiquei no Canto do Uirapuru. Depois foi republicado em outros sites, alguns fazendo referência outros não.


De lá para cá, isto foi em 1998, tenho acompanhado as mudanças que as associações fazem em sua Lei Escoteira para adequá-las ao entendimento do jovem de hoje. A última foi a Austrália, no começo deste ano.


Todas as vezes que se fala em alterar a Lei ou Promessa Escoteira, há um

Art 11 - O Escoteiro não é tolo

rebuliço, talvez porque sendo um decálogo a associam aos 10 mandamentos e, portanto, imutável. A primeira coisa que fazem é invocar Baden-Powell e sua Lei Original. Mas qual? a de 9 artigos? a de dez com suas alterações? ou a com o 11º artigo não incorporado, que ele citava em tom meio brincando meio sério: "O Escoteiro não é tolo", e estava uma brincadeira dupla porque ele se orgulhava da lei ser afirmativa não negativa.



Talvez muitos desconheçam mas a Lei originalmente publicada tinha nove artigos, inspirados no Código de Honra da Cavalaria e, para variar, na obra de Ernest Thompson Seton, The Woodcraft Laws. Mais tarde, 1911, foi acrescentado o décimo artigo, que no original diz “um escoteiro é limpo em pensamentos, palavras e ações”.


Por volta de 1922 duas discussões começaram a ser feitas sobre a Lei. A primeira se deveria ser adotada uma Lei diferente para o Ramo Rover, e a segunda sobre a alteração do art. 2º, pois com o crescimento dos sindicatos, partido trabalhista e socialista, se pressionava para que fosse alterada, porquanto a lealdade era vista como submissão.



O texto original dizia 2. A SCOUT IS LOYAL to the King, and to his officers, and to his country, and to his employers. He must stick to them through thick and thin against anyone who is their enemy, or who even talks badly of them (Um escoteiro é leal ao rei e seus funcionários, e ao seu país e a seus empregadores. Ele deve ficar com eles nos bons e maus momentos contra qualquer um que seja seu inimigo, ou que mesmo fale mal deles) após a mudança


Hoje a The Scout Association, associação criada pelo próprio B-P adota uma lei de 7 artigos.



Carta da Miss Revel

Em 14 de julho de 1922 B-P respondeu à uma sugestão feita pela Srtª Dorothy Revel sobre o artigo segundo dizendo que o texto da Lei Escoteira estava em vigor há 14 anos e enfrentou poucas críticas daqueles que a punham em prática, assim deveria ser cuidadosamente considerado antes de fazer qualquer alteração. É claro que B-P omitiu que ele próprio havia feito pequenas alterações no texto. Em 16 de junho de 1923 o tema abordado pela Miss Revel, voltou à tona com um artigo assinado por C. Protheroi no Workers Weekly, que se identificava como ex monitor escoteiro e membro do Partido Comunista, o qual fazia críticas ao artigo segundo e a expressão lealdade ao empregador. Porém o autor não deixava de dizer-se grato ao Movimento Escoteiro e até mesmo exortar os camaradas de partido a apoiarem Escotismo.


Só em 15 de julho de 1930 foi elaborada uma proposta, na verdade propostas, para a alteração do art 2º. A discussão seguiu. Em 1933 o artigo segundo passou a ter o seguinte texto: “O Escoteiro é leal ao rei, seu país, seus funcionários, seus pais, seus empregadores, ou aqueles que dele dependa." Apesar de não estar no texto da lei ao explicar a alteração B-P colocava ser leal a si próprio.


Pouco se tem de registro como era praticado o Escotismo em seus primórdios através do efêmero Centro de Boy Scouts do Brasil. Extinto este o escotismo ressurge através de diferentes associações, com diversas formas de praticá-lo, e diferentes formas de adaptar o movimento inglês ao gosto nacional. A Lei Escoteira variou de 9 a 12 artigos, e também foi chamada de Código.


Porém o fato é que a Lei Escoteira tal qual a conhecemos na UEB hoje somente teve o seu texto consolidado por volta da segunda metade da década de 1940, com a consolidação da própria UEB.


Agora quando se propõe a alteração do artigo primeiro, vemos nas redes sociais um debate que, talvez, pudesse ser feito de maneira mais civilizada se o processo fosse conduzido de forma mais transparente a partir da elaboração da proposta. Pessoalmente defendo uma revisão mais ampla nos moldes feitos pela Nova Zelândia em 2015, e agora pela Austrália que adota uma lei similar à neozelandesa, clara, concisa e sem perder a essência.


Na questão de fundo está a revisão do texto pela retirada da expressão “sua honra vale mais que a própria vida”, por conta de não haver nada mais sagrado que a vida e o texto brasileiro ser uma exceção mundial, alguns acusam de exotismo, até mesmo aberração. Mas será que isto caiu do céu sem mais nem menos?


O mais antigo texto da Lei Escoteira que conheço é o Código da Associação Brasileira de Boy Scouts, publicado na Revista O Tico-Tico de 11 de novembro de 1914, com 12 artigos; o primeiro tinha a seguinte redação: “A palavra de um escoteiro é sagrada. Elle colloca a honra acima de tudo, mesmo da própria vida.” Já em 28 de dezembro de 1917, sem especificar a que associação pertencia o texto da lei com dez artigos, a mesma revista publicava a seguinte redação para o artigo primeiro “Um escoteiro só tem uma palavra”. Em janeiro de 1922, o Ch. Benjamin Sodré, O Velho Lobo, em sua coluna Escotismo transcrevia o texto do Código Escoteiro com o mesmo teor do publicado em 1914. Já na coluna de 10 de maio de 1923 o Velho Lobo trazia o artigo primeiro com a redação simplificada anteriormente publicada “Um escoteiro só tem uma palavra”, demonstrando que diferentes redações da Lei Escoteira conviviam.


Porém em matéria de concisão nada superava a lei adotada para os escoteiros isolados, não está identificado de que associação. A qual se resumia em quatro artigos. 1- dizer a verdade; 2 – fazer sempre o bem; 3- seguir o Chefe; 4- ter uma vida sã (O Tico tico 30 de maio de 1923).


Mas de onde teriam extraído esta ideia de complementar o artigo primeiro colocando a honra acima da própria vida? Nada mais nada menos do Escotismo para Rapazes, e um outro texto de Baden-Powell.


Na conversa de fogo de conselho nº 2 ao falar dos Cavaleiros da Idade Média, o fundador escreveu:

“Os Cavaleiros consideram a própria honra o mais sagrado dos bens.

Jamais seriam capazes de praticar ações desonrosas tais como mentir ou roubar. A isto preferiam a morte. Estavam sempre prontos a lutar e a morrer em defesa de seu rei, de sua religião ou de sua honra.” E ganha um reforço com a transcrição do código dos Cavaleiros na conversa número 20, o qual diz “melhor morrer honestamente que viver com vergonha” (tradução do original).



Ao escrever sobre o artigo primeiro Baden-Powell fez o seguinte relato: “Se um escoteiro mancha sua honra contando uma mentira, ou por não cumprir uma ordem exatamente como lhe foi confiado por sua honra em fazê-lo, ele deve retirar seu distintivo escoteiro e jamais usá-lo novamente. Ele deve também ser aconselhado a deixar de ser escoteiro.


Isto significa que deve perder sua vida escoteira.


Nos tempos antigos se um cavaleiro era acusado de contar uma mentira ele não deveria descansar até que ele tivesse matado o homem que disse isto ou se matasse, pois não valeria a pena viver."


Por este texto devemos deduzir que quando se fala que a honra vale mais que a própria vida, é a vida escoteira, tal qual B-P colocou claramente.


Imagens: The Scout Association, acervo da BYU. 1- Manuscrito de B-P artigo 11; 2- Arta da Srtª Revel e 3 - Manuscrito de B-P sobre o primeiro artigo na parte que fala de honra

 
 
 

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