Voluntariosos não são bons voluntários

Vez por outra vemos cronistas esportivos se referindo que determinado jogador é voluntarioso. A crônica esportiva é pródiga em inventar adjetivos, ou às vezes querer dar um sentido diferente às palavras, neste caso quer-se dizer que a pessoa tem muita força de vontade ou é esforçada, porém este não é o sentido da palavra.

O Escotismo é um movimento voluntário, porém vez por outra aparecem pessoas voluntariosas, que no seu modo de agir acabam por atrapalhar.

E qual a diferença entre um voluntário e um voluntarioso? Enquanto que o voluntário é o “Indivíduo que realiza um trabalho apenas para prestar ajuda ao próximo ou a uma instituição, sem receber remuneração.” O voluntarioso é “aquele que age plenamente pela sua própria vontade”, ou ainda “aquele que, sem refletir ou considerar a vontade de outrem, só se preocupa com seus interesses e caprichos; caprichoso, obstinado.” (Definições do Dicionário Michaelis)

Assim enquanto o motivo do voluntário é o fazer levando em consideração os outros, o voluntarioso age apenas em função dos seus caprichos.

No Movimento Escoteiro a nossa adesão é voluntária, e ao aderirmos nos sujeitamos às regras do jogo (até mesmo às regras para mudar as regras) – Baden-Powell dizia que o Escotismo é um grande jogo -, mas não basta aceitar as regras do jogo, temos que jogar limpo, o Escoteiro é Leal, diz a Lei que também se aplica a adultos, e no Escotismo para Rapazes B-P escreveu “Joguem sempre limpo e insistam em que os demais também joguem limpo”. Porém o voluntarioso ignora isto porque ele está preocupado unicamente consigo mesmo.

Ainda que os cronistas esportivos apliquem, às vezes, inadequadamente a expressão voluntarioso ao se referir a um atleta, especialmente aos jogadores de futebol, estes existem. Alguns os chamam de “fominha”. São aqueles que querem resolver sozinho o jogo, não jogam para a equipe, ele é que tem que aparecer. Ainda que necessitemos muito de voluntários devemos estar atento aos voluntariosos, àqueles que querem assenhorar-se das tarefas, trabalham em uma seção, mas a todo instante estão às voltas com outra, são escotistas, mas sem nenhuma cerimônia assumem papel que cabe à Diretoria sem ao menos comunicar a ela.

Para os voluntariosos o serviço voluntário é apenas um meio para chamar atenção para si mesmo, especialmente em uma instituição que permite ser contemplado com um título de Chefe ou Diretor, são ávidos pela conquista do poder social, e buscam ser admirados, até mesmo invejados. São pessoas competitivas, que não se dão conta do estrago que podem fazer nas relações e na dinâmica social do grupo que integra.

Muitas vezes custamos a perceber que aquela pessoa que se dispõe a fazer tudo, não é um voluntário, mas um voluntarioso em busca de holofotes, enquanto os demais se acomodam porque ele está fazendo, até que se dão conta que ele faz e desfaz, manda e desmanda, ultrapassa os limites, sem que tenha uma delegação para isto, e sem ouvir a quem de direito.

Devemos ficar atentos pois precisamos de voluntários que joguem com a equipe, não voluntariosos que queiram ser o dono do jogo.

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